Conversar sobre o que fazer

"identificamos um contexto de trabalho e juntos encontramos as soluções práticas, porque nós partilhamos saberes sem esperar uma recompensa por isso"


"Olá,

Estou a viver em Moçambique e por aqui a recolha de lixo e mesmo o
tratamento do mesmo é quase inexistente. O município recolhe o lixo
domestico em apenas algumas ruas. Noutras ruas as pessoas depositam o
lixo na beira da estrada. É prática comum queimar o lixo ao final de
algum tempo de acumulação. Vidro e latas não dá para queimar.

Não sei o que fazer a embalagens de plástico, papel, latas. Estou a
pensar fazer uma caixa de compostagem para os orgânicos, mas queria
evitar que atraísse muitos mosquitos pois esta é uma área com muita
malária.

Algumas sugestões de como lidar com esta situação. Estou consciente
que o ideal seria evitar comprar produtos com embalagens.

Gostaria de receber as vossas sugestões de como lidar com esta situação.

Um abraço,
... "

Resposta 1:
"Tudo o q for Ferro, Cobre e outros metais originais, pode voltar para a terra preferencialmente enterrados onde exista alguma humidade no solo para acelerar a decomposição.

Aluminios podem ser colectados em pilhas e vendidos caso haja industria interessada por perto. Aqui em Portugal vale bom dinheiro, é frequente quando circulamos nas estradas ver-mos (aliás não as vermos completas) as placas indicadoras de direcção e localidades roubadas até à altura q os oportunistas conseguem chegar para as arrancar.

Plásticos depende da sua forma e composição:

Garrafões de 5 Lts de água podem ser usados para multiplos fins, estufas protectoras e incubadoras de plantas jovens. depositos de água, colectores/reflectores solares, moldes para adobes, vasos, oxigenadores de água corrente, caleiras, boisa de jangadas de pesca e turistica, focos de iluminação passiva nos telhados das casas/armazens, etc... o mesmo com garrafas de 1,5 ou 0,75 lts.

Sacos são um problema, pois n tem praticamente nenhuma aplicabilidade posterior ao seu fim inicial. Evitar usar ou junta-los em caixas e comprir o seu volume o mais possível.

Outras embalagens plásticas podem ter alguma aplicabilidade, mas de novo, depende da forma e dureza/tipo de plástico.

Cartão e papel são inumeras as aplicações:
Cobertura do solo nas hortas e pomares, mobiliário, construção de casas, fornos/colectores solares, arte, etc...

Vidro é um problema grave, demora um milhão de anos a decompor e é muito perigoso espalhado no solo. Garrafas inteiras podem ser usadas na edificação de casas como iluminação passiva, em orlas de hortas como retentores de solo, como arte.

Embalagens hibridas como pacotes de leite tetrapak (contem papel e aluminio) podem ser usados como vasos, formas para tijolos de adobe, objectos artesanais como carteiras/porta-moedas, malas, copos, tapetes, biombos, isolantes termicos, corta-ventos, arte, etc...

A maioria desses materiais tem inúmeras reaplicações benéficas. O problema real não está somente na existencia destes como lixo, mas na inexistência de educação do povo que não sabe lidar com eles pois são todos relativamente muito novos na cultura destas civilizações.

Nós, industriais ocidentais do hemisfério norte, soubemos produzi-los e enriquecer enviando para estes países os nossos produtos embalados, mas não soubemos enviar tb as industrias de reciclagem dos residuos destes produtos. Nem o know-how de os reutilizar nos interessa enviar, pois assim eles consomem mais dos nossos originais...

É o paradoxo da reciclagem/produção quando mais de reciclar em casa pior para as economias de produção pois menos se compra novo... da mesma forma que um governo (nós) apela à contenção de despesas e à poupança e ao mesmo tempo tenta dinamizar a economia pelo insentivo ao consumo, exportações, etc.

Em moçambique e países similares está a ser a mesma coisa, e tudo começou com os nossos produtos que enviamos em acções humanitárias...


Boa sorte ... ,

N."

Resposta 2:
"Olá ... ,

Tenta informar-te sobre o mosquito da malária - tenho a impressão que
põe os ovos na água e a larva desenvolve-se lá até ganhar asas, mas
confirma isto. Nesse caso a pilha de compostagem não seria problema.

Boa sorte e dá notícias:)

R."


Resposta 3:
"Allô ... ,

Sobre a malária, confirmo o que a R. disse. O vector necessita de um meio aquático para se reproduzir.

Só para adicionar um pouco mais de informação, caso estejas a viver em Maputo, podes sempre tentar entrar em contacto com a empresa que creio chamar-se "Reclama" (ou Reclema) .. com as instalacões na Matola e que me parece bem dotada (pelo menos as carrinhas de recolha) de sistemas de reciclagem... isto para os produtos que não conseguires dar seguimento.

Abraço

D."